Não sou onívora, vegetariana e muito menos vegana. Sou Gabriela. Ou Gabi. Ou Bi. Porque não quero criar disso uma religião e muito menos uma definição de quem eu sou. Não quero chegar nos lugares e ser apresentada pelo tipo de alimentação que eu escolhi. Também não quero estar separada da sociedade. Quero viver e viver muito, com todo tipo de pessoa. Não é porque eu amo os animais, que tenho que viver numa casa na floresta e meditar o dia todo. Gosto de meditar sim e amo o mato, mas também gosto de muitas outras coisas. Gosto de sair com os meus amigos, ir pra barzinho, boite e festa. Aonde tiver música boa eu to dentro. Gosto de hip hop, funk, samba...de tudo um pouco. Gosto de sair pra jantar e vou em qualquer lugar, até churrascaria em tô dentro. Gosto de gente. E gosto mais ainda de continuar fazendo as mesmas coisas de quando eu comia carne. Gosto de poder compartilhar com vocês um pouco da minha vida e de se possível tocar alguns corações e mudar vidas.
A verdade é que eu sempre comi de tudo e sempre me orgulhei muito disso. A minha mãe tem um restaurante de comida natural desde que eu nasci e como fazia todas as minhas refeições nesse lugar que eu amo, não considerava que a minha alimentação era algo para ser discutido.
Para falar a verdade, não sei muito bem quando essa história começou. Acho, não tenho certeza, que foi quando eu ví passando na rua um caminhão com muitas, muitas, galinhas dentro. Elas estavam todas desconfortáveis dentro de caixas e por mais rápido que tenha sido, aquilo me tocou. Depois acho que foi quando eu fui num parque de diversões e ví um urso polar. O lugar que ele ficava era tão pequeno...e o olhar dele era tão triste....Acho que só quem prestou atenção nele (e não só o viu como um objeto de diversão) sentiu o que eu senti. Aquela cena ficou na minha cabeça e até hoje eu me sinto mal por ele...tão grande num lugar tão apertado. Depois acho que foi quando eu convivi com um vegetariano. Ele me contou um pouquinho do por quê da escolha dele e me indicou o documentário "A carne é fraca", que foi decisivo para mim. As lagrimas não paravam de sair e eu chorava, soluçava para falar a verdade, por nunca alguém ter me mostrado a verdade. Chorei pelo sofrimento dos animais. Chorei pela minha parcela de culpa. E chorei por saber que aquilo não dependia só de mim. Esse último é ainda uma das coisas que eu mais escuto. "mas você acha que só você vai fazer a diferença?". Tudo bem, pode ser que não, mas naquele momento eu não podia mais fazer parte daquilo. Não podia mais aceitar financiar uma indústria que maltrata e machuca os animais. Animais esses que nada fazem contra nós. Decidi parar naquele dia mesmo (01/12/2013). Primeiro com as vacas, porcos, galinhas e todos os outros animais com exceção dos peixes e frutos do mar. Ao longo daquele ano eu fui lendo livros, vendo mais documentários e percebendo, apesar de não me sentir tão sensibilizada com os peixes como com os outros animais, que aquilo não fazia sentido. Não tinha por que sentir mais pena de uns que de outros. Seria o mesmo que tomar como verdade “todos animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. Não ta certo. E aos poucos, a minha consciência foi falando mais alto que o meu paladar. É claro que eu amo (sim, eu ainda amo) cachorro quente, comida japonesa e uma série de outras comidas que eu poderia listar aqui, eu só não me vejo mais comendo-as. Elas passaram de um prato delicioso para a realidade, que é um animal. Um bichinho lindo e indefeso. Um escravo da nossa cultura. A questão é que o meu amor por esses pratos chegou no limite. No começo foi difícil e ainda tem alguns momentos que são difíceis, eu não vou mentir. O cheiro de certas comidas (não a aparência) é o que mais me pega, mas são apenas momentos. Momentos que a tentação se manifesta, mas que a minha compaixão e a necessidade de não fazer parte dessa cultura falam mais alto. A vida é feita de escolhas e eu fiz a minha. Uma escolha que faz com que eu me sinta mais feliz, completa, bem comigo mesma e com o meu corpo e o mais importante...em paz.
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